quarta-feira, 18 de março de 2009

FATOR DISCIPLINAR EM SALA DE AULA


Por: Perillo José Sabino Nunes


A AULA PRÁTICA E A DISCIPLINA


Quando falamos em aulas práticas como coadjuvantes no processo de aprendizagem, nos vem à mente, o laboratório com seus materiais, sua aura de mistério, porque laboratório lembra sempre isso. Mas falar em aulas práticas lembra também de disciplina, de rigor, capacidade de observação. Este é nosso objetivo, neste momento: falar da disciplina e sua importância para que a aula prática, seja no laboratório ou no campo se transcorra de forma segura e eficaz.
O laboratório de Ciências, Biologia, Física e Química é o lugar por excelência da aula prática. Como temos que falar dessas atividades, não podemos nos furtar de falar do seu espaço, que não precisa, necessariamente, ser o laboratório tal e qual imaginado por muitos. Os alunos entendem que para experiências das matérias objeto de nossa discussão, a cozinha de casa serve, principalmente para aqueles que se encontram no Ensino Fundamental, que estudam o ciclo da água, por exemplo. O pátio da escola também se constitui num excelente espaço não só para o estudo das ciências exatas e da natureza, mas também das ciências humanas, dentro do campo da Psicologia e Sociologia, ao se observar a interação dos alunos entre si e com os demais atores que participam do processo ensino-aprendizagem, como professores e funcionários.
Assim, seja em campo, observando a ocorrência de fatos, de comportamentos, contando, anotando, ouvindo, filmando, gravando ou mesmo no laboratório, manipulando materiais e produtos que podem ser danosos à saúde própria e alheia, o aluno ou outra pessoa qualquer precisa ter a atenção voltada para suas atividades, evitando assim, acidentes que podem ter conseqüências não só para o resultado de seus trabalhos, mas também para sua pesquisa. O mais perigoso, no entanto, diz respeito à sua saúde, mesmo que esteja trabalhando na cozinha de casa. Geralmente, para evitar transtornos mais graves, são colocados em pontos estratégicos, materiais que ajudam no socorro em acidentes no laboratório, bem como instruções que são repassadas periodicamente, como folhetos fixados em móveis, recomendando os cuidados adotados em atividades laboratoriais e folhetos ensinando normas de primeiros-socorros em caso de acidentes, prevenção de acidentes provocado por fogo derivado de reagentes inflamáveis, roupas em chamas, queimaduras gerais, queimaduras por fogo, produtos químicos nos olhos, ácidos e álcalis na pele, queimadura de bromo, substâncias orgânicas e cortes.

Observa-se, desse modo, a preocupação com o fator segurança dos alunos e demais participantes do processo ensino-aprendizagem quando este ocorre em um ambiente de laboratório ou mesmo quando o trabalho se desenvolve em campo, principalmente na Biologia, pois ali também podem ocorrer acidentes que podem levar perigos sérios.
Desse modo, enfatizamos sempre as ações que levem à segurança própria e do grupo com quem se trabalha no laboratório ou no campo. Isto demanda uma certa disciplina, que nos dias atuais, apesar de todas as recomendações, nos faz perceber jovens com disposições instáveis para o trabalho como para o estudo[1]. Eles não possuem o que poderíamos chamar de capital cultural, que produz as disposições estáveis para o trabalho e o estudo. Ou seja, capacidade de se concentrar numa atividade por algum tempo. Observa-se que a maioria desses jovens vêm de famílias cujo padrão ou capital cultural é baixo, o que faz com que não exijam deles posturas adequadas para o estudo, trabalho e até mesmo para a convivência social. Vemos muitos jovens cujo corpo está na sala de aula, mas a mente não. Viaja para além dos muros da escola e talvez vão até mais longe, à zona rural, pois muitos sonham com a vida nesse ambiente, "liberdade", ação, sempre sobre um animal bravio, numa ilusão vista na tevê ou mesmo nas festas agropecuárias regionais. As aulas são chatas e muitas vezes são mesmo, mas é preciso que o estudante tenha olhos e mente voltados para seu fazer educacional, pois está em jogo não só sua segurança física no presente através da disciplina corporal e mental[2], mas também o seu futuro.
A seguir, mostraremos os resultados obtidos com nossas observações em dois grupos, atuando em sala de aula e numa reunião, na escola.

A EXPERIÊNCIA

Falar de disciplina e indisciplina é falar das relações sociais, dos fatos sociais vividos no dia-a-dia, seja no mundo escolar, seja no mundo externo à escola. Assim, pretende-se aqui esboçar a idéia da disciplina enquanto relação das pessoas entre si para compreender as posições de alunos, e principalmente professores. Assim, é preciso saber o que os alunos e professores pensam sobre a questão da disciplina e indisciplina. Não esquecendo, entretanto, que os pais, a família, constituem um importante grupo na formação educacional de jovens e adolescentes. O trabalho fica dividido então, em duas fases diferentes, sendo que a primeira envolve os alunos e a segunda envolve os professores, cada grupo explicando suas concepções sobre o tema proposto.

a) Os alunos

O trabalho tem início, tendo o primeiro grupo em sala de aula.
Pergunta-se aos alunos o que eles pensam sobre a questão da disciplina. Ficam por um momento em dúvida. Se olham; olham o professor; dão sorrisos; uma aluna fala: "Disciplina... que disciplina, professor?" Ao que lhe é dito: é aquela disciplina relacionada ao comportamento, às relações humanas na escola, em casa, no trabalho... ela diz: "Ah! É isso?"
Pede-se que elaborem um texto e que coloquem nele tudo que pensam sobre disciplina e indisciplina. Alguns manifestam dúvidas naturais à idade, outros perguntam se "disciplina tem s entre o i e o c", o professor diz que sim e aguarda que todos, compenetrados, escrevam o que pensam com toda a liberdade. Daí a pouco começam a chegar às suas mãos textos escritos a lápis e a caneta, uns com três linhas, outros com duas páginas. Alguns demonstram não saber claramente o que é disciplina, porque arrancam as folhas do caderno de qualquer jeito para entregar ao professor. Mas o objetivo é este mesmo: saber até que ponto vão seus conceitos de disciplina em um dado momento, que em Física é chamado de instante q (ou S = q)[5]. Observa-se que apesar de não demonstrarem, todos, cada um à sua maneira, têm suas concepções de disciplina.
Cada caderno, cada folha com o texto escrito mostra o grau de disciplina de cada um deles, seja pela organização, seja pela qualidade do conteúdo escrito. Camila, por exemplo, diz que disciplina

"é algo que devemos desenvolver ao longo de nosso crescimento e faz parte da educação que recebemos em casa, na escola e em nosso dia-a-dia, mas afinal o que é disciplina? Já ouvimos falar que disciplina nós só aprendemos em casa, mas nós aprendemos vivendo, em nosso cotidiano. Essa palavra é sinônimo de organização, responsabilidade e principalmente educação. Nós somos educados para respeitar o próximo, para lutarmos por nossos ideais, aprendermos com cada situação. A escola é o melhor lugar para se aprender sobre disciplina, ordem, se comportar diante de situações, ocasiões, pessoas; ser disciplinado é saber ter atitudes certas nas horas certas, como por exemplo, na hora de estudar - estudar -, na hora do lazer - lazer -, além de saber falar na hora certa, não sendo inconveniente. Pessoas que são indisciplinadas são aquelas que não terão um futuro muito bom, pois de nada adianta uma pessoa inteligente mas mal educada, a disciplina é o básico; a disciplina é o nosso dever e o nosso direito."

Observa-se pelo texto desta aluna como sua concepção de disciplina é rigoroso, apesar dela mesma não se mostrar assim na sua produção intelectual, quanto à qualidade estética deste material. Leila, outra aluna da mesma turma, diz que

"Ser disciplinado é você saber se portar na sociedade, respeitando e dando oportunidade a outras pessoas. No mundo em que vivemos ser uma pessoa disciplinada já é um grande passo para ter sucesso, viver em paz com todos é sinal de fraternidade, de pessoa amigável. Isso não só dentro da escola, mas em todo lugar em que freqüentamos. A dignidade também é sinônimo de disciplina, portanto quem não a possui não é bem visto na sociedade."

Neste caso também, vemos uma teoria que não é praticada pela aluna, pois ela mesma não buscou dar maior qualidade àquilo que escreveu, não que não pudesse, não soubesse, mas porque faltou prática na aplicação de sua teoria. A aluna Alpalice, mais organizada, diz que disciplina, organização são

"necessários no meio social em que vivemos. Na escola, onde convivem crianças e adolescentes, é fundamental disciplina e organização, pois parar para ouvir o professor explicar, entregar os trabalhos e tarefas na hora certa é um passo para iniciar a responsabilidade do futuro. Já disciplina social também exige organizar-se, desde pontualidade em serviços, eventos e compromissos com amigos. Cada lugar exige de nós o respeito e a reverência compatível com ele, a isso podemos chamar de disciplina. A forma de exigirmos respeito dos outros é respeitá-los também, ouvindo e sabendo falar na hora certa."

A maioria dos alunos se repetem, uns com mais capricho que os outros, mas no fundo, a preocupação é a mesma: saber ouvir, saber respeitar, saber se controlar, ser organizado, ser educado. Fabiana, porém, diz que disciplina

"é a arte do comportamento com os companheiros, da organização consigo mesmo, ou seja, uma forma de educação. Para se conseguir as coisas na vida, é preciso ter uma boa educação e acima de tudo, disciplina."

A aluna Luciana, por sua vez, diz que disciplina

"não é usada só na escola, como se comportar dentro da sala de aula, mas também é necessário em sociedade. Se pensarmos bem, temos que Ter disciplina em casa, onde se começa a partir da educação dada pelos pais. Depois com os colegas com quem realizamos nossas atividades e é mais cobrada a disciplina que se relaciona ao comportamento das pessoas em sociedade. Se tivermos disciplina, teremos bons cidadãos para formar uma boa sociedade."

Outra aluna (Priscilla) apresentou um texto interessante sobre o assunto, demonstrando, além disso, um alto grau de organização, de disciplina, dizendo além disso, que

"Disciplina é um meio das pessoas serem respeitadas. Deve ter disciplina para os outros, mas para si mesmo, como disciplina moral. Muitas pessoas pensam que ser disciplinado é só ter respeito com os mais velhos e na casa dos outros. Na rua ninguém vai perceber seu comportamento, se você faz malandragem, a maneira de se vestir, dançar, conversar e agir, tudo isso se resume em disciplina. Nas escolas tem alguns que gostam de se aparecer, sendo mal educados e aprontando com os colegas. Escola é um dos principais ambientes onde o respeito deve existir, pois é um lugar em que pessoas de várias idades frequentam todos os dias da semana, é um lugar para as pessoas crescerem e aparecerem de maneira respeitável."

Para Fernanda, disciplina é

"saber conviver bem com as pessoas, cumprir suas responsabilidades, por mais difíceis que sejam, respeitar autoridades e determinados lugares, viver em harmonia com a família, saber medir as palavras. Precisamos viver nossos conceitos de disciplina, não podemos deixá-los numa folha de papel e sim exercê-la para que possamos viver em harmonia com nossos companheiros."

Outra aluna, Natália, diz que

"A disciplina é a arte de viver bem com as outras pessoas. Uma pessoa disciplinada tem mais facilidade em compreender situações diferentes e sabe lidar com os mais diversos tipos de pessoas. Quando se possui disciplina e autocontrole, a pessoa sabe se livrar dos problemas que lhe aparecem. A disciplina além de melhorar a vida da pessoa que a demonstra, melhora também a vida das demais que com ela convivem. Educação e disciplina não são coisas que vêm de berço, mas sim algo que se constrói a cada dia. Por tudo isso é necessário salientar a importância da disciplina em qualquer relação, seja em casa, na escola ou no trabalho, porque assim o convívio será melhor."

Willian nos diz que

"A disciplina é essencial para o ser humano, pois sem ela é quase impossível viver em sociedade. Comenta-se que a disciplina é exercida e aprendida em qualquer lugar, mas é na escola que temos maior convivência com a arte, pois a disciplina entre professores e alunos é algo quase que essencial para a aprendizagem, pois com elas aprendemos a nos comportar, a escutar, a falar e a obedecer [e respeitar] a idéia de cada pessoa. Para que possamos viver em um mundo melhor é necessário a disciplina, para que possamos respeitar o próximo."

Assim, para a maioria do grupo, ser disciplinado é: ser organizado, respeitar os mais velhos bem como aos mais jovens, os lugares que se freqüenta. Uma pessoa não pode se comportar da mesma maneira na praia, na sala de aula e na igreja. São comportamentos diferentes para os diferentes lugares, para esses alunos. As idéias às vezes parecem ser desencontradas, mas no geral não perdem o fio.

b) Os professores

O segundo grupo é o dos professores. Foram observados numa reunião pedagógica cuja temática central era "Disciplina - relações humanas na sala de aula". A coordenadora do evento separou textos sobre o tema, uma quinzena antes de se efetuar o encontro dos professores. Uma minoria leu o material recomendado. Nas discussões que se deram, observou-se algumas contradições, que vindas de professores, tornam-se algo preocupante, pois mostra que mesmo este grupo não vive o que prega. As ações são descoordenadas, não havendo comunicação efetiva em relação ao trabalho pedagógico. Prega-se o trabalho "interdisciplinar", mas a sua efetivação não existe. Vejamos o que é disciplina na visão dos professores, para isto, denominamo-los por letras para evitar mal-estar posteriormente.
A professora (A), nos diz que ser disciplinado

"É ser organizado."

Para outra professora (B), na mesma reunião,

"É saber seguir regras, cumprir com os deveres."

Um professor (C), timidamente, do seu lugar, diz que ser disciplinado

"É saber controlar seus impulsos e respeitar o colega."

Outro (D) diz que

"É respeitar a opinião do colega."

Uma professora (A), diz completando a fala do anterior, que

"cada ambiente exige uma disciplina." (sic)

O professora (E), diz que

"No Ensino Médio os alunos têm dificuldade em perceber o momento certo de cada "coisa". É como se precisassem ter sempre alguém para lembrá-los dos seus deveres. Quando estabelecem o contrato são super-rigorosos consigo mesmos, mas esquecem logo em seguida do que ficou estabelecido."

A professora (D), volta a dizer que

"O que é disciplina para um não o é para o outro. O aluno disciplinado é aquele que pergunta, questiona e não o que fica quieto.

A professora (E) diz que

"Prá mim, indisciplina é uma bagunça generalizada. Disciplina é saber fazer "as coisas" na hora certa."

Uma professora (F), diz que

"Nas suas conversas é que podemos conhecê-los melhor. A indisciplina decorre de não saber entendê-los."

Outra professora afirma que

"É preciso saber de onde nasce a indisciplina. Assim, convém deixar bem claro o que é ser participativo para que não haja indisciplina."

A Coordenadora, por sua vez, afirma que

"Segundo Vygotsky, a disciplina é um objetivo a ser atingido."

Um Professor (G), observa que segundo os sociólogos

"O capital cultural é o que o aluno herda da família, que é a capacidade de se colocar num espaço e nele viver conforme suas regras."

A professora (A), volta a falar, dizendo que

"O aluno indisciplinado é o aluno com problema, seja consigo mesmo ou com sua família. A disciplina prá mim, é ter limites e seguí-los."

É de se perguntar: qual é a diferença que separa as opiniões dos dois grupos? Não se vê nenhuma, em nenhum sentido. E na verdade não deve ter mesmo. O que não é nada animador, é que o grupo de docentes deveria pelo menos ter aprofundado o conteúdo da discussão e isso não aconteceu. Por quê? A questão é que nos moldes em que o professor é formado, inexiste qualquer grau de disciplina. As leituras são feitas sub-repticiamente, através de resumos de origem desconhecida e mal feitos. Reclamam do tempo gasto nessas leituras. Não fazem cursos que abram o campo de visão, que lhes traga uma bagagem cultural que vá além daquela apresentada pelos alunos, pois compreende-se que uns e outros não são iguais no ponto de partida. O mestre sempre caminha à frente do seu aluno em conhecimento, para no ponto de chegada estarem em pé de igualdade, muitas vezes o aluno superando o seu mestre. Isto não deve servir de constrangimento para o educador, antes deve ser motivo de orgulho seu.

Nas páginas a seguir, discutiremos, tomando de empréstimo algumas idéias de autores dos quais já foram feitas referências ao longo deste texto, dando algumas pistas para possíveis soluções disciplinares.


DISCIPLINA COMO FATOR DE RELAÇÕES HUMANAS EM SALA DE AULA

Percebemos que numa sala de aula há dois tipos de poder que se encontram e se confrontam, não na forma de combate direto, mas no desafio às normas, na provocação do outro. Esse confronto se dá de duas formas: de um lado, o professor e de outro os alunos, sendo que a sala se constitui no campo de batalha onde a luta se desencadeia, sem que nenhum dos lados o perceba (às vezes mesmo quem observa de fora), mas ocorre a disputa pelo poder, pelo domínio do espaço, com o professor que ensina as regras lingüísticas de Português, Inglês, Matemática, Física, Química, Biologia, Ética, Religião, Filosofia, Sexualidade, etc., às vezes reprimindo, punindo, afagando, se questionando quanto à sua competência na condução da sala de aula, o que lhe causa profundo mal-estar; e o aluno, que trás consigo uma bagagem externa àquilo que a escola vê como requisito adequado para a educação, além de seus anseios, seus projetos, expectativas. O aluno se sente liberto do "domínio" do pai e da mãe, entrando num mundo totalmente novo e mágico. Na sua cabeça, o que não lembrar pai e mãe, não tem valor para ele, porque só seus genitores têm merecimento do seu respeito, da sua consideração, porém, isto não é de graça, porque eles lhe dão a segurança, o afeto, coisas que não vê nas outras pessoas. Contudo, tenta aprender conteúdos fora da sua realidade, longe de seu mundo. Assim, cochila durante a aula, levanta, anda, conversa, vai ao banheiro, onde se demora, volta, senta, ri, conta piada e não valoriza aquilo que a escola e a sociedade acham que é importante que aprenda neste momento.
Desse confronto entre duas gerações, nascem duas coisas que para a educação tem causado grandes prejuízos: uma é a repressão, que às vezes machuca não só aquele que a sofre, mas também às outras pessoas com quem convive, bem como ao repressor, que na sua avaliação nunca deixa de julgar as suas próprias ações; a outra é consequência natural de ambientes que vivem sob a égide da repressão, que é a rebeldia, a indisciplina, cujo ápice chega às raias da violência física contra professores, colegas e patrimônio público, quando não chega no seio da família, mostrando a falta de controle, respeito e amor às pessoas próximas.
Isto se dá numa visão um tanto quanto foucaultiana, pois segue-se ao vandalismo, a punição, conforme o que prescrevem as "leis", visando a restauração da ordem, e como esta vai ser feita, depende do momento vivido, da cultura que predomina, porque o poder do professor, da escola é aparente, cabendo-lhes a tarefa de, invés de punir, à moda antiga, persuadir para a não-violência, para a paz, para a educação do corpo e do espírito, enfim; tarefa complicada, tendo em vista o despreparo que os educadores às vezes têm para assuntos que vão além dos seus conteúdos, das suas disciplinas, bem como a própria família tem tido pouco para ajudar, por causa do seu baixo capital cultural, o que não dá ao jovem uma disposição estável para o trabalho e o estudo, idéia que encontramos nos trabalhos de Bourdieu, conforme já citado no começo deste texto. Acreditamos que a chave para o controle social da indisciplina está na aquisição desse capital cultural por parte das famílias, que com certeza passarão a auxiliar os seus jovens nas suas horas de dificuldade, de angústia, de depressão, porque os fatores disciplinares, de rebeldia, consumo desenfreado de drogas, sexualidade permissiva, se deve aos problemas íntimos, afetivos e sem solução de crianças, jovens e adolescentes, que seriam resolvidos através do diálogo entre pais e filhos, tendo como coluna vertebral, a compreensão de ambos os lados.

A seguir, apresentaremos uma proposta de trabalho que visa auxiliar o professor na condução de suas atividades em sala de aula, de modo a não deixar que a indisciplina ocorra.


CIÊNCIAS NATURAIS - APRENDENDO COM PROJETOS

O ensino de ciências naturais por projetos se constitui nas aulas práticas propriamente ditas, fazendo com que o aluno construa o seu conhecimento usando de suas habilidades e ao mesmo tempo desenvolvendo todas as suas potencialidades, tais como leitura, escrita, pesquisa científica, enfatizando os aspectos qualitativos e quantitativos da abordagem cientifica na educação de crianças, jovens e adolescentes.
Os temas variam de áreas como Botânica, Zoologia, Física, Química, Biologia, Ecologia, Geografia, sempre tendo em mente que o aluno deverá elaborar seu projeto de atividade, realizando para isto, leituras sobre os temas solicitados pelo professor, saindo da apatia com que tradicionalmente o estudante é colocado em sala de aula. Um exemplo de aula prática, com projeto simplificado:

TÍTULO:

Movimento Retilíneo Uniforme.

OBJETIVO:

Mostrar as características deste movimento ideal. Chegar à compreensão
do conceito de velocidade uniforme.

MATERIAL:

1,5 mm de trilho de alumínio, em U, usado para segurar vidros em janelas;
Ripa de madeira de 120 x 2 x 5 cm;
Bola de rolamento (sem defeito);
Pedaços de lata de azeite;
Cola;
Relógio que marque os segundos;
5 cm de varinha de antena de TV;
Lixa.

CONSTRUÇÃO:

Cole o trilho à ripa no lado (2 x 120 cm).
- Serre longitudinalmente pelo meio uma varinha de antena de TV.
- Passe um pouco de lixa nos lados serrados e cole-o, de modo que a bola deslize pela valeta da antena e depois pelo trilho.
- Para segurar na tábua corte uma lata e cole-a na tábua e na varinha.
- Marque, a partir de 2 cm da extremidade A do trilho, as distâncias em cm, marcando com números correspondentes.


PROCEDIMENTO:
- Coloque um calço no lado A e experimente várias vezes se a bolinha tem um movimento uniforme; aumente ou diminua o calço até conseguí-lo.
- Uma vez conseguido, largue a bolinha desde a valeta inclinada, procurando um lugar de onde a bolinha não role nem muito devagar nem muito rápido.
- Para coletar os dados da experiência um aluno deve controlar o tempo; outro aluno deve controlar a distância da bolinha e outro aluno encarrega-se de anotar os valores obtidos.
- O aluno controla o tempo com uma batida de caneta, na mesa, em cada 2 segundo que é uma unidade de tempo bastante razoável.
- Quando o segundo aluno ouve a pancada na mesa, diz o valor da distância e o terceiro anota.
- Uma vez obtidos valores aceitáveis fazem-se os gráficos d = f(t) e v = f(t).
- Observar a dificuldade de obter um MRU (ideal). O movimento real aproxima-se mais ou menos do ideal.

Este é um tipo de aula em que o aluno constrói o seu próprio conhecimento, ten-
do o professor como orientador de todo o processo. É interessante, também, desenvolver o hábito nos alunos, de escreverem os relatórios finais de suas atividades, onde eles explicarão, ao final, as conclusões a que chegaram. Com isto, estarão desenvolvendo suas habilidades, o que modernamente chamamos de inteligências múltiplas.
Os casos em que alunos não participem ou por falta de habilidade ou por má vontade, deve-se deixar bem claro onde ocorrerá o prejuízo, pois ainda que modernamente não aceitemos, os processos de avaliação do ensino e aprendizagem ainda continuam válidos, não havendo substituto à altura. Como podemos avaliar a aprendizagem de um aluno que pouco participa, ou quando participa de atividades e experiências o que conseguem fazer é atrapalhar os companheiros? Costumamos deixar bem claro aos nossos alunos que avaliamos os grupos e se um aluno participa pouco, mal ou nada faz, ele está atrapalhando as notas dos demais membros do grupo. Estes farão com que os indisciplinados cooperem, se tornem mais sociáveis pela pressão do próprio grupo e da sociedade em que vivem (a sala de aula).
Mas o essencial na escola, no combate à indisciplina, é que todos os membros dela falem a mesma língua. De nada adianta a direção acreditar que a disciplina se resolve de uma maneira, a coordenação de uma segunda maneira e os professores, que são os construtores reais de todo o processo, de uma terceira maneira. O grupo tem que se unir, afinar o discurso e seguir coesos para que não tenham que usar da coerção tão propalada pelos autores discutidos neste texto e em outros.
Além disso, é preciso que a escola e os pais se unam para juntos, se auxiliarem no Projeto maior, que é a Educação de nossas Crianças, Jovens e Adolescentes.
Concluído em:
03/03/2001.
Por:
Perillo José Sabino Nunes,
E-mail:
perillojose@gmail.com Perillo José Sabino Nunes, mestrando em Educação, pela UFMT.

[1] Conforme BOURDIE, Pierre. A miséria do mundo. 2ª.ed. Petrópolis: Vozes, 1998.
[2] Conforme FOUCAULT, Michel. Vigiar e Punir. História da violência nas prisões. Petrópolis: Vozes, 1991.
[3] Segundo DOS ANJOS, Ivan Gonçalves. Física. São Paulo: IBEP, 2000, "A medida algébrica (positiva ou negativa) do segmento que vai da origem (q) até o ponto considerado representa a posição (ou abscissa) da partícula (neste caso, o saber considerado em um dado momento) e é representada pela letra S."

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